Devem entrar em disputa 120.000 vagas nas esferas federal, estadual e municipal. Candidatos devem se preparar: a concorrência é grande
Estima-se que existam atualmente cerca
de 12 milhões de brasileiros interessados em ingressar em carreiras públicas. O
número recorde é o dobro do registrado há cinco anos, segundo estudo da Agência
Nacional de Proteção e Apoio ao Concurso Público (Anpac). Para quem sonha com
um colocação no setor, 2013 se apresenta como um ano pródigo em oportunidades.
Mais de 120.000 vagas devem ser preenchidas neste ano nas esferas federal,
estadual e municipal em todo o Brasil. Somente no Executivo federal, a
expectativa é de 37.000 vagas, um incremento de 115% em relação a 2012, segundo
dados do Ministério do Planejamento. Somem-se a isso postos no Legislativo e
Judiciário e mais outros em estados e municípios e constrói-se a perspectiva de
um ano de oportunidades de trabalho. Mas é preciso estar preparado, pois a
concorrência é grande.
O que dizem os 'concurseiros'
Marisa Levy Marques, 27 anos, engenheira candidata a fiscal da Receita
* Com reportagem de Lecticia Maggi e Renata Honorato
Para os 'concurseiros', 2013 promete ser cheio de oportunidades (Renato Araújo/ABr ) |
"Em 2010 e 2011, houve uma diminuição no ritmo de contratações, como fica
claro no caso da União. Em 2012, houve a retomada dos grandes concursos, que
oferecem milhares de vagas, e a expectativa para 2013 é a melhor
possível", diz Ricardo Ferreira, especialista na área de concursos e autor
de vários livros sobre o assunto. Outra boa notícia é a percepção dos
especialistas de que o bom momento para os "concurseiros" não para
por aqui. Os próximos anos também devem oferecer muitas oportunidades. As
projeções apontam que há 2 milhões de vagas a serem preenchidas. "É uma
demanda que não será atendida em apenas um ano. O que significa que este ano
deve ser o primeiro de uma série cheia de processos seletivos", afirma
Ernani Pimentel, especialista que se dedica há cinco décadas a concursos e
ex-presidente da Anpac.
Esse cenário favorável é explicado em
parte pelo fluxo de aposentadorias na área pública, que se intensificou nos
últimos anos. Na esfera federal, por exemplo, mais de 10.000 servidores se
aposentaram em 2010, o dobro do registrado cinco anos antes, segundo dados do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Há também indicadores do
envelhecimento do pessoal. Entre 2000 e 2012, a parcela de funcionários com
idade entre 51 e 60 anos cresceu 75%, ao mesmo tempo em que a taxa daqueles com
mais de 60 anos aumentou 157%. Hoje, quatro em cada dez servidores tem
mais de 50 anos.
"Isso faz com que concursos que não eram realizados há muitos anos sejam
retomados", diz Alexandre Gialluca, coordenador do curso preparatório LFG.
Exemplo disso é o processo seletivo para o cargo de delegado da Polícia
Federal, que não é realizado há oito anos e que deve ocorrer no primeiro
semestre de 2013.
A
análise da pirâmide etária dos servidores revela outro dado importante. Os
novos servidores estão mais jovens. Ainda na esfera federal, o número de
funcionários com menos de 30 anos de idade acresceu 113% nos últimos 12 anos.
"Existe uma percepção muito clara de que os jovens estão mais interessados
em trabalhar em algum posto governamental", diz Bruna Tokunaga,
gerente de orientação de carreira da Cia. de Talentos, consultoria especializada
em recrutamento. "No último ano, segundo nossas pesquisas, o porcentual de
interessados em concursos públicos dobrou entre os profissionais em início de
carreira."
Pesa a favor da carreira pública, sem
dúvida, o salário. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostram que o setor paga, em média, 93% mais do que a iniciativa
privada. Em cargos que exigem nível superior, o salário inicial de um jovem
recém-formado pode superar os 10.000 reais. "Nenhuma empresa paga tanto a
uma pessoa com pouca ou nenhuma experiência profissional", diz Ricardo
Ferreira. Mas não é só o contracheque que leva essa turma a empenhar meses ou
até anos de estudos em preparação para as provas de concursos públicos em busca
da tão sonhada vaga. "Existe nessa geração a redescoberta do bem público.
Até alguns anos atrás, trabalhar para o governo era quase nocivo, coisa para
burocratas sem aspirações profissionais. Foi preciso subverter essa lógica para
atrair a mão de obra qualificada", diz Marco Antônio Carvalho Teixeira,
vice-coordenador do curso de administração pública da Fundação Getúlio Vargas
(FGV).
De fato, até meados da década de 1990,
era quase impossível para um servidor progredir na carreira, e os salários eram
em média 30% menores do que os pagos pela iniciativa privada. Isso começou a
mudar na administração Fernando Henrique Cardoso, que deu início a uma reforma
na administração do estado – com ganhos para o próprio estado e para o cidadão.
O primeiro passo foi a valorização salarial. Hoje, um delegado da Polícia
Federal em início de carreira ganha 76% mais que há 12 anos. Já o incremento no
rendimento de um técnico do Banco Central foi de nada menos do que 317%.
Para
Teixeira, da FGV, trata-se de uma quadro bastante animador. "Tudo passa
pelo bom funcionamento do estado. Quanto mais profissionais de alto quilate
zelando pelo bem comum tivermos, mais eficiente será o nosso estado." As
reformas impostas até agora no setor público não eliminaram, é claro,
desperdícios e mau uso da máquina.
Mas é inegável que, nas funções em que o estado é indispensável, é vital que haja um servidor competente de plantão.O segundo passo, não menos importante, foi no sentido de estruturar as carreiras. Extinguiram-se as gratificações por tempo de serviço e instituíram-se aumentos salariais de acordo com o desempenho individual em mais de quarenta carreiras. Para atrair gente qualificada, incrementos salariais robustos se tornaram acessíveis a profissionais com mestrado e doutorado. A paulista Vanessa Vieira, 29 anos, retrata os novos tempos do funcionalismo público. Formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais conceituadas do país, ela foi aprovada pela primeira vez em concurso público durante a graduação.
Há três anos, atua como defensora pública do estado de São Paulo, carreira com rendimento mensal bruto superior a 20.000 reais. Mas ela não se acomoda e já se prepara para uma pós-graduação.
Concursos mais cobiçados em 2013 |
Mas é inegável que, nas funções em que o estado é indispensável, é vital que haja um servidor competente de plantão.O segundo passo, não menos importante, foi no sentido de estruturar as carreiras. Extinguiram-se as gratificações por tempo de serviço e instituíram-se aumentos salariais de acordo com o desempenho individual em mais de quarenta carreiras. Para atrair gente qualificada, incrementos salariais robustos se tornaram acessíveis a profissionais com mestrado e doutorado. A paulista Vanessa Vieira, 29 anos, retrata os novos tempos do funcionalismo público. Formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais conceituadas do país, ela foi aprovada pela primeira vez em concurso público durante a graduação.
Há três anos, atua como defensora pública do estado de São Paulo, carreira com rendimento mensal bruto superior a 20.000 reais. Mas ela não se acomoda e já se prepara para uma pós-graduação.
Quem
quiser conquistar as joias da coroa, as melhores posições da administração
pública, precisa estar muito bem preparado. Em média, os candidatos dedicam um
ano inteiro aos estudos antes das provas de seleção. Em alguns casos, é preciso
mais.
Formado geógrafo pela Universidade Federal Fluminense, Leonardo Carlos
Barreto, de 24 anos, entra em seu terceiro ano de preparação para o Instituto
Rio Branco, onde busca uma vaga de diplomata. "Passei dois anos estudando
até 12 horas por dia, mas ainda não consegui meu objetivo", conta. No ano
passado, o Instituto realizou seleção de 30 diplomatas. Inscreveram-se 6.423
interessados, uma concorrência de 214 candidatos por vaga. Também em 2012, a
Petrobras anunciou o preenchimento de 1.521 postos de trabalho, para os quais
se inscreveram 330.568 pessoas. São 217 candidatos para cada posto. "Não
existe aprovação sem perseverança quando se trata de concurso público",
resume o especialista Ernani Pimentel. "A prova é o funil do qual o
governo dispõe para selecionar apenas os melhores para seus quadros."
Melhor assim.
O que dizem os aprovados
"Eu
me formei em direito, na USP, e atuar na Defensoria sempre foi meu sonho.
Estudei por três anos para só passar no concurso. Durante a preparação, cheguei
a ficar sem computador e TV para me concentrar melhor. Era difícil até namorar.
Agora, na Defensoria, vejo muitas possibilidades de crescimento profissional –
o que inclui aumento de salário."
Vanessa Vieira, 29 anos, defensora
pública do estado de São Paulo
"Deixei
a iniciativa privada devido à instabilidade. Quando comecei a estudar para
concursos, passava dez horas debruçada sobre apostilas. Passei em quatro:
Caixa, BB, INSS e IFSP. Quando assumi o cargo, descobri os incentivos do plano
de carreira. Tirei licença para fazer mestrado e, no retorno, recebi aumento de
52%. Se fizer doutorado, o bônus é de 75%."
Cristine Vecchi, de 30 anos, jornalista
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP)
O que dizem os 'concurseiros'
"Quando
escolhi a graduação em geografia na Universidade Federal Fluminense (UFF), já
pensava no futuro como diplomata. O salário alto e a oportunidade de conhecer
outras culturas sempre me interessaram. Passei dois anos estudando até 12 horas
por dia, mas ainda não consegui meu objetivo. Muita gente desiste diante de
tamanha concorrência. Eu não."
Leonardo Carlos Barreto, 24 anos,
geógrafo candidato a diplomata
"Decidi
que queria trabalhar para o governo em 2009. O que mais me atrai no setor
público é a estabilidade. Desde então, fui aprovada em um concurso da
Prefeitura de São Vicente (SP), mas meu objetivo mesmo é ingressar na Receita
Federal. Não poupo esforços para alcançar esse sonho. No Réveillon, enquanto
meus amigos se divertiam, eu estudava em casa."
Marisa Levy Marques, 27 anos, engenheira candidata a fiscal da Receita
* Com reportagem de Lecticia Maggi e Renata Honorato
HONORATO,
Renata; MAGGI, Lecticia. 2013, o ano dos concursos públicos. Veja
Acesso em: 12/01/2013. Disponível
em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/2013-o-ano-dos-concursos-publicos.
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